27/06/2016

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História de professora

História de professora

O pedido da entrevista é inesperado. “O que há de tão especial em mim para uma conversa gravada, foto?”, se perguntam enquanto saem da sala para assumir o novo papel. A resposta reside nas histórias, os passos dados por Adriana, Gislaine, Roseli e Shirley. Quatro professoras, quatro trajetórias, e algumas coincidências. Todas hoje trabalham no CEPLAS como pedagogas. Todas vieram de outros setores da rede La Salle. Todas encontraram a motivação para cursar no Unilasalle-RJ o curso superior. Todas, apesar de em momentos diferentes, entenderam na prática as palavras de Paulo Freire: “A alegria não chega apenas no encontro do achado, mas faz parte do processo de busca”. Adriana buscou ensinar ao invés de cuidar, tendo na enfermagem também uma paixão. Gislaine buscou as Análises Clínicas primeiro, o quadro e o giz depois. Roseli buscou o que não sabia. Nunca se viu como educadora, apesar de sempre ter lidado com crianças. Shirley, que chora ao lembrar das conquistas, talvez não imaginasse dar aos pequenos o carinho partilhado ao tratar da paciente idosa. Buscou, nos dois extremos da vida, a satisfação.

Agora, elas próprias contam como chegaram dos Serviços Gerais e da Enfermaria ao comando da sala de aula, representando “o sucesso” nas palavras da coordenadora Karla Bustamante. “O CEPLAS tenta alcançar, cada vez mais, níveis de excelência, tanto na gestão da educação através de projetos interdisciplinares, de sustentabilidade e inclusão socioeducativa quanto excelência nas relações profissionais. Com esse olhar sensível que se construíram histórias como as delas”, resume a mentora. Conheça as oportunidades geradas pelo intercâmbio entre a escola e o centro universitário:

Adriana Gaspar, 29 anos

Professora do 3º período (turno da tarde)

 

TRAJETÓRIA: “Eu sempre sonhei em ser professora, mas esse desejo acabou ficando perdido na minha caminhada. Eu tinha 17 anos e não tinha como ir para o Curso Normal, era muito distante da minha casa. Meu pai chegou um dia com a opção do curso técnico em enfermagem. Me apaixonei pela área e deixei a educação adormecida. Até que surgiu a oportunidade de trabalhar com saúde escolar no La Salle Abel e comecei minha história na rede. Foram sete anos como enfermeira terceirizada somando o colégio, o Ensino Médio e o Centro Educativo e de Promoção La Salle. No CEPLAS cheguei em 2009, quando voltava da minha licença maternidade, para trabalhar no ambulatório recém-aberto. Aqui foi uma identificação instantânea, observava cada gesto das pedagogas, cada cuidar. Soube então do Unilasalle-RJ e da possibilidade de conseguir desconto. Eu queria ter uma formação e decidi me inscrever em Pedagogia. Ao término do curso me vi diante de uma nova escolha e, desta vez, a educação falou mais alto. Neste momento foi muito importante o conselho do Irmão Ignácio. Guardei as palavras dele de que eu seria uma excelente professora e ele me veria ainda brilhar muito. Em agosto de 2013, já com o diploma, esperando uma vaga na área, surgiu a chance de ir para a sala de aula no CEPLAS. Quando a Karla me procurou comecei a chorar, por ter que deixar o ambulatório e ao mesmo tempo por enxergar Deus me dizendo para tentar seguir naquele rumo deixado lá atrás”.      

MOMENTO MARCANTE: “Em 2014 eu era auxiliar e a professora da minha turma teve problemas familiares, ficou afastada. Vi ali a minha prova, a hora de saber se dava conta, pois estaria sozinha com 28 crianças. O tempo passou, e ela não retornou à instituição. O meu momento marcante foi quando a Karla me deu o voto de confiança: ‘Adriana você se mostrou uma excelente profissional, parece que nasceu para isso. Você vai assumir como regente da turma do 3º período’”.

Gislaine Rodrigues, 33 anos

Professora do 3º período (turno tarde)

 

TRAJETÓRIA: “Fiz curso de Análises Clínicas. Pedagogia era minha segunda opção, mas não tinha condições financeiras, por isso acabei optando pelo que era mais em conta na época. Estagiei na área, mas fiquei desempregada por seis meses e tinha uma filha para criar. Foi quando soube de uma vaga como auxiliar de Serviços Gerais no CEPLAS, em 2011. Como a Pedagogia era um dos caminhos que pretendia seguir, quando cheguei me senti em casa, parecia já conhecer tudo. Apesar de estar na limpeza, eu lidava muito com as crianças, levava ao banheiro, ajudava de alguma forma no dia a dia. Vendo como fiquei encantada todos começaram a me incentivar a fazer a graduação no Unilasalle-RJ, mas não tinha como pagar o restante dos 50% não inclusos no desconto. Fui até o Irmão Ignácio e ele conseguiu uma bolsa integral. Quando estava no 3º período da faculdade, indo para o 4º, em 2013, Karla me liga nas férias dizendo que eu voltaria como professora, já indo participar de reunião. Nem pensei duas vezes, respondi ‘Claro!’ instintivamente. Comecei como auxiliar em uma turma bem agitada, ficava com o cabelo em pé, mas foi uma descoberta para mim. Hoje só tenho a agradecer, é uma profissão pela qual nos apaixonamos a cada nova aula, aprendemos com eles”.       

MOMENTO MARCANTE: “Acho que é a questão do retorno das crianças, o carinho que eles têm. A cada dia vem uma florzinha, um bilhetinho, um desenho. Eles querem mexer no meu cabelo, falam que nos amam. Há pouco tempo uma aluna me surpreendeu falando na volta do feriado: ‘Tia Gigi, senti tanto a sua falta, doeu aqui’ e apontou para o coração. Essas trocas fazem valer muito a pena”.

Roseli Liberato, 41 anos

Professora auxiliar do 2º período A (turno da tarde)

 

TRAJETÓRIA: “Já tive várias profissões. Desde 20 anos trabalhei em creche e escola como Serviços Gerais e fui babá em casa de família. As crianças estavam ali, mas não me enxergava como professora, achava aquela realidade muito distante de mim. Até que encontrei uma amiga minha e, conversando, revelei que me sentia cansada do meu trabalho, queria ir para uma empresa. Era a Regina Freitas, do Núcleo de Práticas Jurídicas (NPJ). Ela falou de uma vaga como auxiliar de Serviços Gerais e comentou: ‘Lá você tem a oportunidade de conseguir uma bolsa, fazer uma graduação’. Achava que seria para o ano seguinte, mas em menos de dez dias já estava dentro da rede. Vim trabalhar no próprio NPJ em 2010. Fazia meu trabalho e vez por outra a Regina estava lá para me lembrar dos estudos. Chegou no meio do ano seguinte e ela me intimou. Estavam abrindo as inscrições para o vestibular e eu ia me inscrever. Optei por Administração e cursei o primeiro semestre. No fim do período estava chorando e indo na Isabel Almeida (coordenação de cursos do centro universitário) para trancar a matrícula. Ela só respondeu: ‘Você tem bolsa de 100%, não pode fazer isso. Está começando uma turma esta semana de Pedagogia, por que não tenta? Faz um teste durante uma semana, se não gostar aí sim vem aqui e tranca’. Comecei, o tempo foi passando, fui gostando e ficando. Na hora de fazer estágio conheci o CEPLAS. Ficava sentada observando aquelas crianças, elas se aproximando, me elogiando. Lembrei do meu passado, mas agora me vendo ali com eles. Gostei tanto que pedi mudança para os Serviços Gerais do CEPLAS. Fiquei durante um ano e no final de 2015 surgiu vaga para auxiliar em sala. Deu aquele desespero inicial, comecei com o 2º período e pouco depois fui para o 1º. Parecia que eu e as crianças estávamos aprendendo juntas”.  

MOMENTO MARCANTE: “Um dos marcos para mim envolve também o Irmão Ignácio. Quando Karla foi solicitar minha mudança de Serviços Gerais para professora auxiliar ele exaltou o meu trabalho e lembrou que eu tinha vindo do Núcleo de Práticas Jurídicas. Outros momentos vêm do próprio convívio diário com as crianças, de cada ‘Eu te amo’”.

Shirley Torres Adão, 31 anos

Professora do 2º período B (turno da manhã)

 

TRAJETÓRIA: “Minha história tem início nos Serviços Gerais do Unilasalle-RJ, em 2006, graças a uma amiga. Fiz curso auxiliar e técnico em enfermagem, mas perdi uma paciente por conta de idade avançada e fiquei desempregada. Trabalhei três anos consecutivos no Uni e decidi estudar. Comecei Administração. Neste meio tempo surgiu o CEPLAS e a chefe do setor na época, Dona Graça, me indicou para os Serviços Gerais de lá. De início fiquei resistente, não queria ir para um lugar novo. Mas aceitei a mudança. Estava no 3º período da graduação na época e decidi trancar, vi que não era a minha praia. A Pedagogia veio com a professora Angelina Accetta. Conversando uma vez ela me disse que eu tinha tudo a ver com o CEPLAS e me indicou este caminho. Em 2013 terminei o curso já dando aula aqui, depois de indicação do Irmão Cláudio”.    

MOMENTO MARCANTE: “Recentemente vivi um momento de emoção. Nem tinha dado a hora da saída ainda, e um aluno me falou que já estava com saudade. É gratificante você ver que faz a diferença. E as coisas vêm da onde menos esperamos. Ele estava brincando, no dia seguinte viria para a escola, mas me deu esta demonstração de afeto. É o que marca”. 

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