Basta chegar à Escola La Salle Rio de Janeiro para a cena se repetir. Primeiro uma criança corre em direção ao visitante e lhe abraça, depois outra repete o gesto, e outra. Logo o visitante está cercado por elas num grande abraço coletivo. O abraço que agora precisa esperar. Com a necessidade do isolamento social diante da pandemia do novo coronavírus (COVID-19), os braços não podem envolver, mas nem por isso a La Salle RJ deixa de abraçar; ressignifica a palavra para continuar a fazer dela um alento. Na última quarta-feira, dia 29 de abril, o abraço veio por meio da partilha. As portas da escola se abriram para que os responsáveis pudessem ir buscar cestas básicas oferecidas às famílias. Para cada aluno foi cuidadosamente montada uma cesta repleta de itens não perecíveis, que abastecerão a despensa das casas, e um kit de higiene, contendo sabonetes, detergentes, água sanitária, álcool em gel e sabão em pó. Com o intuito de evitar aglomeração, foram estipulados turnos por turma para a retirada das doações.
A escola havia distribuído em março às famílias mais necessitadas os mantimentos que seriam utilizados para preparar as refeições das crianças, caso as aulas presenciais estivessem ocorrendo. As novas cestas básicas, que agora chegam a 100 casas, são mais uma tentativa de amenizar os impactos da quarentena à renda doméstica, já que na maioria dos lares dos alunos o sustento se dá por meio de serviços autônomos. Rafaela Souza precisava deste auxílio e se emocionou na primeira vez que recebeu alimentos da escola. Mãe do Rafael, aluno suplente do Pré I que entrou na escola em 2020, ela faz questão de demonstrar a realização por ter o filho matriculado na La Salle RJ. “Eu batalhei muito por essa vaga e comemorei tanto quando a Elane (Elane Martins, secretária da escola) ligou para mim, que eu quase entrava pelo telefone para abraçá-la”, festeja, “Em pouco tempo o Rafael tem desenvolvido coisas que eu nem imaginava. Macarrão ele não comia, e agora está amando, fala que come na escola sozinho. Ele está muito feliz aqui e sentindo muito a falta da escola”.
A gratidão também está presente no depoimento de Joana Paula Cordeiro. Menos de uma hora depois de deixar a La Salle RJ, com as mãos repletas de produtos, ela enviava à coordenadora Maviane Lima seu abraço, materializado na forma de uma mensagem de texto: “Tia Mavi, quero agradecer de todo o coração o que vocês têm feito pelos nossos filhos. E essa ajuda está sendo muito bem-vinda em meio a toda essa pandemia [...] Gostaria muitíssimo de agradecer a toda essa equipe maravilhosa e ao diretor, Irmão Jardelino Menegat”. Enquanto estava na escola, Joana posou para foto junto da filha Pyetra utilizando as máscaras que acabara de receber de Elane Martins. A secretária escolar, além de ter estado na linha de frente da distribuição das cestas na quarta-feira, ampliou naquela ocasião o abraço dado às famílias. Por trabalhar em diversos projetos sociais, atuando inclusive na Cruz Vermelha, Elane conseguiu junto à prefeitura de Niterói 200 máscaras gratuitas. Cada responsável levou duas delas para casa.
Joana e a filha Pyetra, do Pré I, com as máscaras que Elane Martins conseguiu junto à prefeitura
Não é possível ver o sorriso de Joana e de Pyetra na imagem, mas por um bom motivo. O mesmo pelo qual Pyetra depositava em seu Sansão o carinho que queria dar às professoras. “Algumas famílias precisaram trazer as crianças por não terem com quem deixá-las e a vontade era sair correndo para pegá-las no colo, o que víamos que elas mesmas queriam fazer. Mas, além dos pais alertarem a elas a necessidade de ficarmos afastados, eu dizia ‘Podemos nos cumprimentar de outra forma, que tal batermos tênis com tênis?’”, recorda Maviane.
Criar novas formas de contato tem exigido criatividade. Assim como ensinar, mesmo à distância. Durante o Regime Especial Domiciliar, a escola tem investido em sugestões de atividades pedagógicas para as crianças realizarem com a supervisão dos pais, publicadas de segunda a sexta-feira nas redes sociais institucionais. Elas vão desde a reprodução em casa de alguma receita nutritiva, dando continuidade ao Projeto Salada de Letras, a partir do qual as crianças fixam o alfabeto, até a criação de jogos que estimulam a psicomotricidade e o raciocínio lógico. Pedagogas e colaboradores também produzem conteúdos que são divulgados, como contação de histórias, musicalização, e a explicação da pirâmide alimentar. “É muito importante para as crianças agora. A Melissa (aluna do Pré I) ama fazer as tarefinhas da escola, já está até aprendendo a escrever o nome dela”, conta Beatriz Candido de Oliveira deixando as lágrimas virem à tona. Antes de ir embora, segura a emoção para formular uma última frase: “Muito obrigada pelo que vocês estão fazendo por nós”. O abraço que faz a diferença.
A princesa Melissa, do Pré I, está realizando todas as atividades do Regime Especial Domiciliar
Por Luiza Gould
Fotos de Adriana Torres
Ascom Unilasalle-RJ