Helena já havia encontrado o seu ovo de chocolate quando olhou para a fotógrafa e a viu de mãos vazias. Será que aquela moça não tinha encontrado o dela ainda? “Eu vou procurar para você”, diz a aluna da Creche III determinada, e sai em disparada pelo parquinho. Nem deu tempo de avisar que os coelhinhos naquela tarde tinham trazido os doces só para as crianças. Quando finalmente Helena recebeu a notícia, logo recuperou o fôlego e se colocou em prontidão para um novo gesto de generosidade: ajudar o amigo que buscava o seu chocolate. É exatamente a generosidade que une Helena Teixeira, a menina de 3 anos, de máscara no rosto e grandes orelhas de papel na cabeça, aos coelhinhos reais, que proporcionaram a Caça aos Ovinhos mais desafiadora da história da Escola La Salle RJ.

“O receio, devido à pandemia, de não haver ovos suficientes mas, na semana da entrega, termos ultrapassado a quantidade de que precisávamos é a certeza de que Deus está conosco e a esperança não pode esmorecer”, assegura entre lágrimas Maviane Lima, coordenadora da Escola. Mesmo com o cenário de crise, sanitária e econômica, Maviane decidiu sonhar. Como o retorno presencial foi autorizado pela prefeitura e as crianças estariam na Escola, por que não fazer, respeitando todas as medidas de segurança necessárias, uma Caça aos Ovinhos? Claro que em novos moldes, sem o acompanhamento dos padrinhos, com uma turma por vez na área externa, todos de máscara, sem aglomeração. Lançada a campanha e recebidas as primeiras doações, a expectativa foi crescendo até elas estagnarem. Semanas se passaram com somente oito ovos de chocolate na sala da coordenação. Mais de 80 eram necessários para que todas as crianças fossem contempladas.

E, então, com generosidade somada à pró-atividade, que fariam mais tarde a pequena Helena sair à procura de ovos mesmo já tendo achado o seu, o milagre da multiplicação aconteceu. Maviane pôde ver se materializar na sua frente a passagem bíblica que inspira as ações da Rede La Salle este ano: a multiplicação dos pães (João 6, 1-15; Marcos 14,13-21; Lucas 9, 10-17). Com o pouco que havia disponível, Jesus ensinou os seus discípulos a fazerem muito, saciando a fome de todo o povo. O pouco disponível acendeu o alerta. Era hora de multiplicar. Foi o que fizeram a Ação Comunitária do Unilasalle-RJ, a Pastoral da Juventude Lassalista (Pajula) do Colégio La Salle Abel e a Velha Guarda, grupo de ex-alunos da Pajula.

“Conseguimos arrecadar o dinheiro para a compra dos ovos inicialmente entre os nossos voluntários e depois estabelecendo uma parceria com a Pastoral do Abel através da Incubadora de Projetos Solidários do nosso setor. Estamos oferecendo um curso de voluntariado para os alunos de Ensino Médio do Colégio e como primeira atividade sugerimos a participação dos meninos na Páscoa Generosa, da Escola La Salle RJ. Logo de cara, eles fizeram uma mobilização bem grande no Abel e arrecadaram muitos ovos”, lembra Antonio Lucena, integrante da Ação Comunitária do centro universitário.

Rebeca Macedo Soares foi um dos nomes envolvidos nesta mobilização. A aluna do 3º ano E do Abel teve a sua primeira experiência com voluntariado por meio da participação na campanha da La Salle RJ: “Além de auxiliar na divulgação, eu pude participar da entrega e ver o resultado do nosso esforço. Fiquei muito feliz de poder levar essa alegria para as crianças, a partir do aprendizado do que é ter um olhar solidário”. Por conta da pandemia, a Pajula não pôde ter contato direto com as crianças, mas o time foi recebido pela coordenação no dia 24 de março. Na ocasião, Maviane fez questão de deixar claro para os estudantes a importância da Páscoa Generosa. “É um diferencial na vida de cada aluno nosso, esta ludicidade, este momento de fantasia. Muitos não têm a oportunidade de ganhar um ovo de Páscoa fora da Escola”, lembrou a coordenadora.

Imagina não ganhar nem na Escola? Beatriz Frickmann, integrante desde 2020 do grupo Velha Guarda, que reúne ex-alunos do Abel, sintetiza em uma frase o sentimento que impulsionou cada pessoa envolvida na campanha: “Quando se trata de criança, acho que falo por todos, o nosso coração fica ainda mais apertado”. Foi para ele não ficar, que a Velha Guarda recebeu a missão de contribuir de “peito aberto”. “Como integrante do setor de Comunicação do grupo, acabei acompanhando de perto o processo de criação dos materiais e divulgação, assim como a determinação individual e coletiva em conseguirmos bater a meta de ovos arrecadados”, recorda Beatriz, “Reunimos R$ 460,00 em doação para a compra dos ovos. Eu e outros integrantes chegamos a contribuir. No fim, só temos a comemorar por ter dado tudo certo”.

Mais do que certo... Na passagem da Bíblia, os cinco pães e dois peixes disponíveis são abençoados por Jesus e, então, distribuídos para a multidão. A fartura foi tanta que os discípulos encheram cestos depois da refeição: “Todos comeram e ficaram satisfeitos, e dos pedaços que sobraram, recolheram ainda doze cestos cheios. E os que haviam comido eram mais ou menos cinco mil homens, sem contar as mulheres e as crianças” (Mt 14, 13-21). Os oito ovos de Páscoa se transformaram em 88 e ainda sobraram 25, doados para a campanha promovida pela Street Store, parceira do Setor de Ação Comunitária do Unilasalle.

Neste mês de abril, Helena sorriu, mesmo que não fosse possível ver por conta da máscara. Sorriu com o seu ovo da Turma da Mônica nas mãos, saindo do brinquedo onde o encontrou. Sorriu através dos grandes olhos de coelha eternizados pela lente da fotógrafa Adriana Torres, a quem a menina quis ajudar poucos minutos antes. Neste mês de abril, apesar de todas as adversidades trazidas pela pandemia, muitas crianças sorriram como Helena. E também adultos.

Por Luiza Gould

Colaborou: Camila Reis

Fotos de Adriana Torres

Ascom Unilasalle-RJ