Na sala do Pré II, Dandara se concentra para a pescaria enquanto Alice Ferreira começa a exibir o seu vestido: “A minha dinda que comprou pra mim, o nome dela é Renata”. Logo ao lado, na Creche III B, a diversão está garantida com a boca do palhaço. Caminhando pelo corredor, chegamos à sala da Creche III A. E lá, Esther Santos quer derrubar com uma bolinha os copos de plástico empilhados. Ela tenta uma vez, tenta de novo, na terceira tentativa ainda não consegue acertar a mira. Mas, não tem problema, a professora Shirley Adão está pronta para anunciar uma nova chance. Quando a pilha de copos se desfaz, a festa está garantida em forma de pulinhos e palmas. “Eu consegui derrubar tudo”, conta, animada, a menina de 3 anos. No fim do corredor, está a turma do Pré I. Lá, o desafio é fazer com que as argolas entrem em garrafas pet. Kayke Alves de Souza é um dos que abraça o desafio, entre uma e outra ida à mesa dos quitutes juninos. Milho, cachorro quente, bolo de aipim, pipoca, paçoca... “Eu comi um docinho e fiquei de barriga cheia”, diz ele, trajando sua blusa xadrez, tão característica desta época: “Eu me arrumei na minha casa, a minha mãe me arrumou e eu fiquei assim”.
O esmero dos pais, saudosos em arrumar as suas crianças para o Arraiá, era perceptível em cada traje. Gravata com bandeirinhas, retalho de coração na parte de trás da calça jeans, lacinhos de fita tanto nos cabelos (em maria-chiquinha ou trançados) quanto nos vestidos rodados. No refeitório, a saia do vestido gira ao vento em mais um rodopio. Melissa Cândido, do Pré II, abre os braços para mostrar à repórter o quanto dançou naquela tarde. O amigo Miguel Valloury constata: “Eu gosto muito de quadrilha”. Desta vez, a grande roda não é possível, cada turma precisa fazer a sua dança separadamente, com alunos distanciados, mas ritmados. Seja no exato momento de agachar e bater o pandeiro (feito de papelão e fitinhas coloridas) seja dançando a coreografia da música escolhida: tudo é sincronia. E emoção. A coordenadora Maviane Lima grava a apresentação com o seu celular para os pais, em casa, poderem assistir aos pequenos dando show. Um momento pelo qual ela tanto aguardou:
“Teve mãe chorando ontem, me perguntando se não podia mesmo ser presencial, porque queria assistir. Eu falei: ‘Eu quero que vocês entendam, que se cuidem, se vacinem para que, no futuro, todo mundo assista, participe’. Mesmo de uma forma simples está sendo muito gostoso este dia de hoje. As crianças escolheram as músicas, fizemos os ensaios. Elas aprenderam o sertanejo, o forró, a quadrilha. A festa junina não é só uma festa. Toda a proposta pedagógica trabalha este traço da cultura brasileira desde o finalzinho de maio”.
No dia 23 de junho, o Arraiá da Escola La Salle Rio de Janeiro foi diferente. Teve distância, teve um novo e indispensável acessório (a máscara), mas também teve, além de tudo o que esta matéria descreve, o mais importante: a alegria da infância, esperança de um novo amanhã.
Morena B, da Creche III B, sorri no único momento em que as crianças ficam sem máscara na Escola: a hora do lanche
Por Luiza Gould / Colaborou: Maria Eduarda Barros
Fotos de Adriana Torres
Ascom Unilasalle-RJ