12/04/2022

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Alunos da Escola La Salle transformam-se em artistas

Alunos da Escola La Salle transformam-se em artistas

O olhar da infância é por natureza um olhar sensível, que se surpreende e cria a partir do que vê. Essa é uma certeza que pôde ser constatada pelos alunos do Pré I e da Creche III da Escola La Salle após visitarem a exposição “Utopia dos Afetos”. Os quadros e esculturas de papel representando a infância, as brincadeiras, as cores bem como a força feminina se tornaram material de base para as crianças fazerem releituras.

A opinião dos pequenos sobre esse exercício artístico está na ponta de língua. “Eu gostei de fazer o quadro porque estava muito lindo. Eu fiz o do Davi e da Hadassah, eu usei tinta e caneta”, explica Alice Nunes do Pré I A, fazendo alusão à releitura do quadro “Por um fio”. Na obra original, uma menina branca fala em uma latinha e é ouvida, em outro extremo, por uma menina negra. Os quadros são unidos por um fio de barbante. Na versão dos alunos da Escola La Salle, a pintura a óleo, com inserções em tecido, dá lugar à fotografia dos irmãos Davi e Hadassah da Silva Ferreira, reproduzindo a brincadeira. Alice e outras crianças da turma ajudaram a colorir a tela. Esther Xavier ainda lembra da cor que empregou. “Usei tinta amarela e eu gostei de fazer porque era tão legal”, diz a menina com um toque delicado na voz e inclinando a cabeça enquanto descreve seu sentimento em participar. Já Davi, um dos dois alunos retratados na obra, já a considera como sua. “Eu gostei do quadro porque ele era meu. Meu rosto que estava no quadro”, afirma com convicção. Enquanto conversa com a jornalista, ele recorda que seu amiguinho não pôde estar presente no dia da visitação e lamenta: “Esse é meu amigo Lorran, ele não foi naquele dia porque estava passando mal em casa”.

Releitura da obra "Por um fio" 

 

Sophia Pinheiro, do Pré II, contribuiu com a releitura de “No jardim”, obra em que três aparecem de mãos dadas, tendo ao fundo um mosaico composto de diversos tons de azul e verde. “Eu fiz o cabelo, a roupa e o pezinho das bonecas”, explica, “Eu gostei muito porque aquele quadro era muito bonito e por isso que ele foi o meu preferido”. Arthur Machado parece ecoar a fala de Sophia, mas faz questão de também de deixar o seu relato: “Ei a gente já foi lá e eu fiz o quadro, eu fiz o bonequinho e eu gostei muito, foi muito legal”. As crianças se mostraram animadas em cada etapa, mas, em especial, no momento de pintar em tela. Todas elas sabem descrever exatamente os materiais empregados e as cores escolhidas. “Usamos tinta, caneta, lápis e fita. Tem verde, azul, brilhoso e vermelho, tem vários tons de azul”, responde o Pré II em coro.

 

Abordagens dentro de sala de aula

As professoras das duas turmas explicam quais temas foram abordados em sala para que a arte dos pequenos nascesse. “Nós fizemos a releitura de ‘No Jardim’. Existe uma identificação por parte dos alunos com esse quadro porque eles acabam se vendo”, esclarece Déborah Elias, professora do Pré I B, “São apresentadas na tela meninas e meninos, temos os animais, presentes no cotidiano deles, as cores, que são quase todas primárias, como trabalhamos aqui em sala, as formas geométricas... No dia da exposição, eles ficaram muito entusiasmados, falavam a todo momento: ‘Olha, tia, um cachorro’; ‘Olha, tia, uma criança’”.

A turma de Gislaine Rodrigues, do Pré II, elegeu o mesmo quadro para se inspirar e trabalhou o que, a seu ver, foi uma “abordagem necessária”: “Eles escolheram ‘No Jardim’ porque viram os bonecos como representação da amizade. Nesse período estávamos trabalhando as identidades aqui na sala, falando sobre as diferenças, a discriminação. Além disso, as crianças estavam também numa fase de bater nos coleguinhas e o momento de fazer a releitura da tela do Bê Sancho foi uma oportunidade de discutir isso. Ao representarem a ternura entre amigos na obra passaram a falar: ‘Se eu bater em meus amiguinhos eu vou ficar sem eles e vai ser muito triste’”. Para além dessa mensagem, foi possível também incluir a abordagem de conteúdos programáticos do Pré II. “Com as geometrias presentes no quadro revisamos as formas geométricas, dando foco ao triângulo, que era a figura em destaque. A partir disso, trabalhamos o número 3 também, pelo fato de o triângulo ter três lados. Quando estava ganhando forma, as crianças se mostraram encantadas, se sentiram verdadeiros artistas”, conta Gislaine.

Releituras da obra "No Jardim" feitas pelo Pré 1 e Pré 2

 

Maviane Lima, coordenadora da escola, sintetiza assim a importância da atividade: “Aqui as crianças são pedrinhas a serem lapidadas. Ajudamos a plantar uma sementinha de bons hábitos para que elas floresçam por aí. Com o avanço da tecnologia, os pequenos acabam muito envolvidos por outras telas, como a do celular e, no geral, não têm muito acesso àquelas criadas por artistas brasileiros. Então, ter contato por meio da Galeria de Arte La Salle e poder fazer a releitura dessas obras é um relevante acréscimo na vida deles”. Sobre o trabalho de Bê Sancho, Maviane tem a leitura de que sua obra “é muito lúdica, muito viva e nessa exposição em especial vemos a realidade das crianças, ela traz os sonhos, a boneca, as festas de rua, o tom de pele, a autoestima que precisa ser trabalhada”. A coordenadora considera este um primeiro presente de “Utopia dos Afetos” para a La Salle RJ. O segundo foi dado durante a visitação dos alunos ao caminho cultural do Unilasalle-RJ, quando tiveram o primeiro contato com os quadros: “A coordenadora Angelina Accetta fez essa mediação, explicando as obras de uma forma muito especial, contando histórias”.

A arte também se somou à brincadeira. O telefone de latinhas pintado por Bê, que na releitura ganhou vida por meio de Davi e Hadassah, foi confeccionado em sala de aula com copos plásticos e cada membro do Pré I A levou a sua versão para casa.

 

A importância da arte na vida das crianças

Se as crianças conheceram as criações artísticas de Bê Sancho, Bê também precisava ser apresentado à sensibilidade dos artistas mirins. As releituras ganharam espaço na exposição e o emocionaram: “Foi uma surpresa ver como as crianças captaram e expressaram seus afetos motivados pelo meu fazer. A Galeria faz um trabalho muito singular, especial e potente, na medida em que se coloca no lugar do movimento, promovendo experiências estéticas e afetivas, além de contribuir para a formação cultural de toda a comunidade, independentemente da idade de cada um”.

Para Bê, a arte tem a missão de formar cidadãos sensíveis e é indispensável desde que somos crianças. “A arte está no campo do sensível e, na primeira infância, essa experiência tem muito impacto na formação das personalidades e identidades dos estudantes. Acredito que uma educação baseada em experiências criativas pode ser impactante na qualidade da educação”, avalia.

Angelina Accetta, à frente do Núcleo de Arte e Cultura do Unilasalle-RJ, foi a responsável por proporcionar essa experiência e mostrou o quanto ela é importante para o desenvolvimento pessoal e educativo dos alunos: “As visitas guiadas foram cercadas de alegria e curiosidade. O contato com a arte aprimora o sentido do olhar consciente-sensível. As leituras das obras ajudam as crianças a perceberem e refletirem sobre os sentimentos que surgem quando se deparam com elas, o que facilita o autoconhecimento e a autoexpressão”.

 

Por Mariana Monteiro / Revisão: Luiza Gould

Fotos de Adriana Torres

Ascom Unilasalle-RJ

 

 

 

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