A inteligência não é um dom. A
aquisição do conhecimento é um processo capaz de ser desenvolvido por qualquer
um. Basta saber como.
21/08/2014
- 16:00
Texto Redação Bons
Fluidos
Há pessoas que não sabem fazer cálculos
que envolvam porcentagem, por mais que alguém tente explicar a elas a lógica de
multiplicar o número em questão pelo valor percentual e depois dividir por 100
para obter o resultado. "Não adianta, não consigo aprender", é o que
elas costumam dizer, já com a calculadora em mãos. Outras colecionam diplomas
de desistência em escolas de idiomas. Frequentam algumas aulas, balbuciam
algumas frases... E acabam repetindo o mesmo lamento de incapacidade, julgando
que jamais vão aprender a se comunicar em uma língua que não seja a materna. E
você? Também tem uma listinha particular de 'não consigo'? É hora de rever essa
sentença e encontrar os males que a alimenta.
Eu consigo, sim!
Para começar a descortinar a
capacidade cognitiva que todos nós, sem exceção, temos, vale a pena conhecer a
frase "Nasceu gente, é
inteligente". Ela foi cunhada pelo educador suíço Jean Piaget
(1896-1980), biólogo que dedicou a vida à observação científica do processo de
aquisição de conhecimento pelo ser humano. Categoricamente, ele desmonta a
crença de que a inteligência trata-se de uma bênção concedida somente para
alguns poucos iluminados. "Desde o nascimento até a hora da morte, todo
ser humano tem potencial para aprender algo novo", explica Esther Pillar
Grossi, doutora em Psicologia da Inteligência pela Universidade de Paris.
"Porém, a inteligência é um processo a ser construído e precisa de uma
série de oportunidades para acontecer."
"Muita gente que diz não
conseguir aprender, na verdade, quer alcançar o resultado queimando fases, sem
esforço ou disciplina", fala Lino de Macedo, professor do Instituto de
Psicologia da Universidade de São Paulo. Por isso mesmo, é importante buscar prazer e sentido no que se almeja aprender.
"As oportunidades estão presentes no dia a dia e não somente na
escola", diz Esther.
Quando somos crianças, os adultos
que nos cercam são atores importantíssimos na construção da aprendizagem.
Porque é por meio dos olhos deles que enxergamos o potencial que temos. Esther
Pillar Grossi explica que se um menino ouve dos pais que ele não é capaz de
aprender matemática acaba desistindo de estudar. Se for comparado com outra
criança (como o primo da mesma idade, ‘esperto para fazer contas’), ainda pior
para ele e melhor para o tal primo, que, coberto de elogios, se empenhará cada
vez mais. "O adulto tem de ter essa tomada de consciência, tem de olhar
com confiança e jamais desmotivar", diz a doutora em Psicologia da
Inteligência.
Também
é papel de quem ensina colaborar com o aprendizado, instigando o aprendiz,
despertando sua curiosidade. "Se acho astronomia uma coisa chata, não
vejo sentido em aprendê-la. Mas isso não quer dizer que não posso aprendê-la.
Para tal, tenho de me sentir provocado, despertado", explica Lino de
Macedo, professor do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo.
Além de capacidade, o ser humano tem fome
de aprender. "Se não forem desrespeitadas, as barreiras físicas e
cognitivas não são empecilho para novos conhecimentos", diz Lino de
Macedo. Ainda mais na nossa sociedade, cheia de inovações, em que o aprendizado
precisa ser constante para que possamos usufruir do que o mundo tem a nos
oferecer.
Nem sempre é fácil se adaptar a
novidades. Primeiro, é preciso querer. Não só aceitar. Depois, ter empenho e paciência para galgar as
etapas do saber. "Aprender é dominar algo que não se tinha
antes", fala Lino de Macedo. Simplificando, é dar um presente para si
mesmo.