25/09/2014

Todos podem aprender

A inteligência não é um dom. A aquisição do conhecimento é um processo capaz de ser desenvolvido por qualquer um. Basta saber como.

 

21/08/2014 - 16:00
Texto
Redação Bons Fluidos

 

     Há pessoas que não sabem fazer cálculos que envolvam porcentagem, por mais que alguém tente explicar a elas a lógica de multiplicar o número em questão pelo valor percentual e depois dividir por 100 para obter o resultado. "Não adianta, não consigo aprender", é o que elas costumam dizer, já com a calculadora em mãos. Outras colecionam diplomas de desistência em escolas de idiomas. Frequentam algumas aulas, balbuciam algumas frases... E acabam repetindo o mesmo lamento de incapacidade, julgando que jamais vão aprender a se comunicar em uma língua que não seja a materna. E você? Também tem uma listinha particular de 'não consigo'? É hora de rever essa sentença e encontrar os males que a alimenta.

     Eu consigo, sim!
     Para começar a descortinar a capacidade cognitiva que todos nós, sem exceção, temos, vale a pena conhecer a frase "Nasceu gente, é inteligente". Ela foi cunhada pelo educador suíço Jean Piaget (1896-1980), biólogo que dedicou a vida à observação científica do processo de aquisição de conhecimento pelo ser humano. Categoricamente, ele desmonta a crença de que a inteligência trata-se de uma bênção concedida somente para alguns poucos iluminados. "Desde o nascimento até a hora da morte, todo ser humano tem potencial para aprender algo novo", explica Esther Pillar Grossi, doutora em Psicologia da Inteligência pela Universidade de Paris. "Porém, a inteligência é um processo a ser construído e precisa de uma série de oportunidades para acontecer."

     "Muita gente que diz não conseguir aprender, na verdade, quer alcançar o resultado queimando fases, sem esforço ou disciplina", fala Lino de Macedo, professor do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo. Por isso mesmo, é importante buscar prazer e sentido no que se almeja aprender. "As oportunidades estão presentes no dia a dia e não somente na escola", diz Esther.

     Quando somos crianças, os adultos que nos cercam são atores importantíssimos na construção da aprendizagem. Porque é por meio dos olhos deles que enxergamos o potencial que temos. Esther Pillar Grossi explica que se um menino ouve dos pais que ele não é capaz de aprender matemática acaba desistindo de estudar. Se for comparado com outra criança (como o primo da mesma idade, ‘esperto para fazer contas’), ainda pior para ele e melhor para o tal primo, que, coberto de elogios, se empenhará cada vez mais. "O adulto tem de ter essa tomada de consciência, tem de olhar com confiança e jamais desmotivar", diz a doutora em Psicologia da Inteligência.

     Também é papel de quem ensina colaborar com o aprendizado, instigando o aprendiz, despertando sua curiosidade. "Se acho astronomia uma coisa chata, não vejo sentido em aprendê-la. Mas isso não quer dizer que não posso aprendê-la. Para tal, tenho de me sentir provocado, despertado", explica Lino de Macedo, professor do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo.

     Além de capacidade, o ser humano tem fome de aprender. "Se não forem desrespeitadas, as barreiras físicas e cognitivas não são empecilho para novos conhecimentos", diz Lino de Macedo. Ainda mais na nossa sociedade, cheia de inovações, em que o aprendizado precisa ser constante para que possamos usufruir do que o mundo tem a nos oferecer.

     Nem sempre é fácil se adaptar a novidades. Primeiro, é preciso querer. Não só aceitar. Depois, ter empenho e paciência para galgar as etapas do saber. "Aprender é dominar algo que não se tinha antes", fala Lino de Macedo. Simplificando, é dar um presente para si mesmo.