Por Luiza Gould
Para o jornalista, escrever um texto em primeira pessoa tem a sua conotação rara. Ao informar, pressupõe-se o relato de quem vê, mas não se coloca. É como um observador anônimo sempre na luta para deixar o público perceber o mínimo possível sua participação inerente nos acontecimentos. A ocasião, no entanto, pedia, pois além de jornalista sou madrinha de crianças da Escola La Salle Rio de Janeiro. Peguei então emprestada uma licença poética, estilo Machado de Assis, comentando entre um trecho e outro, caros leitores. Comecemos pelas informações objetivas desta matéria: data, dia, horário, local e evento. Era uma quarta-feira, 7 de dezembro de 2016, às 15h, quando o cenário do Anfiteatro Ir. Egydio Lucas, no 8º andar, foi preparado para receber a segunda tarde do Natal Generoso.
O cartão contendo os kits a comprar, consultado dias antes, trazia os nomes de Emanuela Moreira da Costa, do 2º período B, e Ana Clara Barbosa Pereira, do 3º período. Manu foi um presente de Páscoa. A madrinha dela tinha faltado, a minha afilhada também, e assim campanha após campanha, lá estava a primeira criança que apadrinhei. Ana também veio de forma inesperada. A entrevista seria com o aluno do 3º período que tem todos os textos de peça decorados na ponta da língua. Na ausência dele, fui apresentada à carinhosa menina de 6 anos. A partir daquela data, cada nova cobertura na escola era motivo para ela pedir licença à professora, levantar e vir abraçar esta que vos escreve. Dali ao Café Literário, no qual frases como “Vamos nos abraçar até virarmos massinha” foram repetidas e sentidas por ambas, se criou um misto de encantamento e gratidão.
Mas voltemos ao tema desta matéria, caros leitores: Natal Generoso. O objetivo é doar aos pequenos, muitos em situação de carência, roupas, calçados, itens de higiene e brinquedos, vivenciando com elas os princípios natalinos. Coroando a festa, o Papai Noel chega, distribuindo mais lembranças e tirando as tão aguardadas fotos com o bom velhinho. É o momento de os padrinhos vibrarem junto, virarem de novo crianças. Eu virei, talvez até seja uma delas crescida, como diriam meus amigos de trabalho. Para somar às emoções, eu tinha minhas duas afilhadas comigo ao mesmo tempo.
“Fiz bolo com a Manu, batemos a massa de mentirinha e colocamos no forno”, explica Ana Clara ao citar aquele dia, “Eu amei a minha madrinha, eu gostei muito dos presentes. Quando cheguei em casa a primeira coisa que fiz foi pegar a minha bonequinha fofinha para brincar. O nome dela é Luiza e ela dormiu comigo. A sandália vou usar na apresentação do Auto de Natal e o sabonete estou usando até hoje”.
Depois desta descrição, só resta a esta jornalista convidá-los a relembrar na Galeria de Fotos como foi o Natal Generoso 2016. Ela deixa também uma mensagem, na expectativa de que todos queiram fazer esta chamada telefônica: “Pegamos o telefone que o menino fez com duas caixas de papelão e pedimos uma ligação com a infância” (Millôr Fernandes).
Veja também os depoimentos de outras crianças apadrinhadas:
Diego Nilo Hentzy Gutierrez, 6 anos
"Ganhei um boneco e uma moto. Também ganhei uma roupa e gostei tanto que quis trocar embaixo da cadeira. Eu dividi o meu padrinho com o Luan Samuel. Ele ganhou um carro e também uma moto. O Luan jogava o carro e eu o boneco, que ia parar em cima do carro e dava cambalhota. O que eu mais gostei foi o bolo e os brinquedos. Deixei na casa da minha avó porque já tenho mil brinquedos na minha casa".
Rebeca Alves Silva Xavier, 5 anos
"Foi legal, ganhei uma roupa, esta sandália aqui, uma Polly, um shampoo, uma escova, uma pasta de dente e um creme. O que eu mais gostei foi ver o Papai Noel, que me deu presentes. Pude tirar muitas fotos com ele. Brinquei com a minha amiga Brenda, que recebeu uma boneca grandona da madrinha dela. Já brinquei dez vezes com a minha Polly em casa, troco o vestido dela e finjo que ela está na casa dela, comendo pizza".