“Eu prendi o coronavírus no saquinho. Ele não vai sair agora”. Pedro Lotfi deixou a sala da coordenação mostrando para quem passasse por ele sua máscara suja cuidadosamente embalada dentro de um saco plástico. Com apenas 5 anos, o aluno do Pré II segurava com força a embalagem para proteger a si e a todos de algo que não vê, mas sabe o quão perigoso é. Alice Soares, da mesma turma, também sabe: “Agora, as professoras estão entregando o lanchinho na sala. É por causa do coronavírus”. Pedro logo emenda: “E tem que ficar longe do amiguinho, não podemos colocar a mão no chão...” A amiga completa: “Nem na boca e nem nos olhos”. De sua mesa, mantendo o devido distanciamento das crianças, a coordenadora Maviane Lima observa a cena orgulhosa. Junto da direção, ela ajudou a pensar em cada detalhe para garantir um retorno presencial seguro às crianças cujas famílias optassem por esta modalidade de ensino em 2021. Desde 8 de fevereiro Maviane com os maiores aliados para tudo dar certo: os próprios alunos.
“A consciência deles supera a de muitos adultos, um tem cuidado com o outro”, diz Maviane à jornalista enquanto acompanham o cuidado de Pedro em manter o coronavírus aprisionado. “Orientamos os pais que fizessem um treino com seus filhos ainda em casa, de uso contínuo da máscara por uma, duas, três horas seguidas, para que pudessem se acostumar. Também conversamos com os alunos sobre o vírus, falamos que se trata de um problema mundial, explicamos as formas de contágio e de prevenção. Sempre utilizando a linguagem apropriada, voltada para a realidade deles, para a idade deles, atentos às reações de cada um”, completa a coordenadora.
Para além do diálogo, medidas elaboradas pelo menos sete meses antes do retorno têm sido cruciais para minimizar os riscos. Um protocolo escrito por seis lassalistas norteou a retomada das atividades educacionais a partir de três eixos: Segurança e Proteção; Aprendizagem; e Bem-estar. O documento de 13 páginas foi criado considerando orientações dos órgãos de saúde e experiências de outros países. A partir dele, a Escola La Salle RJ se transformou. Dispensers com álcool em gel nas paredes, sinalização de distanciamento no piso, obrigatoriedade do uso de máscaras (no plural, pois várias são usadas ao longo do dia), dois turnos de aulas para diminuir o número de crianças em um mesmo espaço e lanche não mais coletivo agora fazem parte do cotidiano escolar.
O sorriso com os olhos também. Apesar de lábios não mais o mostrarem, os olhos de quem passou 10 meses longe do parquinho, dos corredores, das salas, dos colegas e das professoras brilham. Assim como brilham os olhos de quem não conhecia nada disso. Miguel acaba de ingressar na Creche III e mesmo com apenas um mês de aulas, sua mãe, Raquel Pacheco, já tem motivos para celebrar: “A adaptação do Miguel foi uma surpresa. Ele quer ser sempre o primeiro a entrar no ‘coleginho’, nas palavras dele. Passa as horas em casa falando das atividades da Escola e cantando as músicas que aprende. Nos primeiros dias pudemos perceber o papel de extrema importância que a La Salle RJ terá no aprendizado e no desenvolvimento do Miguel”.
Raquel ressalta em seu depoimento ao site da Escola La Salle RJ que “chama a atenção os cuidados empregados com a higienização para evitar a disseminação do coronavírus no espaço escolar”. “Eu me sinto confiante em deixar o meu bem mais valioso aos cuidados dessa escola ímpar”, conclui.
Regime Especial Domiciliar segue sendo uma opção
Apesar de todos os cuidados, há, no entanto, famílias que preferiram adiar o retorno presencial, já que a pandemia segue sendo uma dura realidade, com alto número de óbitos no país. Janini Fonseca, por exemplo, optou por manter a filha Valentyna, do Pré I, em casa. “Não visitamos nem recebemos ninguém aqui. A Valentyna também não tem contato com outras crianças por enquanto. Ela está ansiosa para voltar, mas ainda não me sinto segura”, revela.
Atenta a cada caso, a La Salle RJ manteve desde o início deste ano letivo o Regime Especial Domiciliar, a partir do qual os pais acompanham diariamente atividades sugeridas nas redes sociais institucionais, tendo o papel de mediação na aprendizagem dos filhos. Os conteúdos são elaborados pelas professoras todas as sextas-feiras, com a supervisão de Maviane Lima. “A Valentyna faz atividade comigo e com a irmã e gosta, principalmente, daquelas que envolvem corte e colagem. Ela amou fazer os trabalhos relacionados ao Carnaval”, conta Janini.
Atualmente oito alunos seguem no Regime Domiciliar. Seja na escola seja em casa, o aprendizado continua. “O meu nome começa com ‘a’”, conta a esperta Alice que há pouco tempo caminhou em cima da letra que dá início ao seu nome e ao alfabeto, em plena sala de aula. A letra foi gravada no chão com uma fita crepe e as crianças a percorreram, uma forma de desenvolver a psicomotricidade, movimentos necessários para que aprimorem suas destrezas na escrita. A atividade foi gravada e transmitida aos pequenos que seguem em seus lares, mas agora podem, com o auxílio da tecnologia, matar um pouco das saudades de onde querem estar. Se depender do cuidado da Alice e do Pedro, rapidinho este momento chega.
Por Luiza Gould
Fotos de Adriana Torres e Maviane Lima
Ascom Unilasalle-RJ